No outro lado do oeste

Já fazem mais de três semanas que a tia Cleuserene está atulhando meu Facebook com mensagens suplicando para eu não esquecer de comprar a pipoqueira que ela pediu quatro meses atrás, antes de eu sair de viagem. Afinal, esse modelo estava pra vender no eBay (em edição limitada) e como atrasou a aposentadoria dela naquele mês, a coitada não conseguiu comprar a dita panela.

Hoje resolvi sair para procurar. Estava adiando isso, pois a loja fica cerca de 20 km aqui da homestay, considerando que eu tenho de pegar duas linhas de metrô e um ônibus, levando quase 1 hora e 15 minutos de viagem para chegar até o local. Contudo, tracei a rota no Google Maps, comparando com o mapa de metrô, ônibus e streetcar oferecido pelo TTC. Como durante o trajeto o celular não tinha sinal de internet pra continuar com a rota e a localização por GPS quase nunca funciona, usei como localização uma das avenidas principais, a Finch Avenue West,  que cruza a avenida onde o ônibus andava, a Islington Avenue, sendo essa última a mesma da loja. Em seguida, comecei a tentar localizar pelo número dos prédios o ponto mais próximo para desembarcar. Quanto a isso, não foi nada difícil.

Popcorn Hardware Centre

Na volta, compra feita, missão cumprida, peguei o mesmo ônibus, porém, no lado oposto da rua, o qual me levaria para o ponto inicial, a Islington Subway Station, onde eu pegaria um trem até a Spadina Subway Station e outro até a Eglinton West Subway Station, considerando que essa última estação fica próxima da homestay. Conforme eu havia consultado no mapa e confirmado enquanto estava no ônibus, a Islington Avenue atravessa a Eglinton Avenue West, dessa forma, se eu desembarcasse na interseção entre as duas avenidas, poderia trocar o restante do trajeto na Islington e esquecer as duas linhas de metro, por outro ônibus direto até a Eglinton West Subway Station e foi o que fiz.

O ônibus que eu deveria pegar era o 32 ou 32A, que por sinal, o 32 é o mesmo que pego para chegar na escola todas as manhãs, até a Eglinton Subway Station, na interseção da Eglinton Avenue West com a Younge Street, quando a Eglinton Avenue passa a ser Eglinton Avenue East. Esperei pelo ônibus cerca de 10 minutos, pegando a linha 32. O motorista deve ter dirigido por cerca de 10 minutos também quando soltou “Attention Customers, this bus is going to out of service! [Atenção passageiros, esse ônibus está saindo fora de serviço!]”. Assim como as demais pessoas, desembarquei e fiquei no ponto aguardando pelo próximo ônibus. Achei estranho aquele ponto de ônibus, pois geralmente esses lugares possuem alguma identificação referenciando o TTC, seja no mapa fixado nos vidros da cabine ou mesmo em alguma publicidade, mas aquele ponto não demonstrava nada parecido. Esperei cerca de 5 minutos e avistei um 32A chegando, mas percebi que pela velocidade ele não estava com intenção de parar, fiz sinal, e de fato, ele não parou. Achei mais estranho ainda. Em seguida, reparei que um ônibus diferente da frota gerenciada pelo TTC parou, o letreiro frontal referenciava Mississauga, uma cidade vizinha aqui de Toronto, onde inclusive fica localizado o Toronto Pearson International Airport. Quase ao mesmo tempo, mais um TTC estava chegando e também não parou. Dessa forma, acabei concluindo que aquele ponto é exclusivo para ônibus intermunicipais, por isso, comecei a caminhar em busca de outra parada. Já estava noite, contudo, na quadra seguinte encontrei outro terminal de espera. Mais uma vez, devo ter aguardado por volta de 5 minutos, e apareceu um 32A. Embarquei e reparei que o ônibus estava vazio, somente o motorista e eu. Certo de que estava pegando o ônibus correto, escolhi um assento e sentei. O motorista partiu e pela minha surpresa na quadra seguinte ele virou a direita, a direira novamente, mais uma vez a direira e por último virou a esquerda, retornando para a Eglinton Avenue West, contudo, na direção oposta a qual eu embarquei. Foi então que eu pensei “What a fuck? Ele está indo para o lado errado! Para onde esse cara está me levando?”. Continuei achando que estava sendo levado para a direção errada quando cheguei a conclusão de que o motorista estava certo, obviamente, eu quem estava errado, desde a interseção na Islington com a Eglinton West, pois sem pensar, quando eu desembarquei do ônibus que estava na Islinton, tomei qualquer lado da Eglinton West, sem saber se era o “oeste correto” ou não. Nesse meio tempo, eu já havia perdido mais de 50 minutos. Checando no mapa, tudo começou a fazer sentido, pois ele retornou logo após eu embarcar porque era o fim da linha, provavelmente se eu encontrasse algum ônibus que continuasse seguindo o caminho que eu queria fazer, em poucos minutos estaria em Mississauga, saindo de Toronto.

caminho errado

No entado, perdido eu não estava, só estava tentando ir para o lado contrário do que deveria, enquanto os ônibus estavam tentando me levar para o lado correto. E mais uma vez, eu cheguei a conclusão de que em apenas 4 meses é impossível desenvolver um senso de direção preciso em uma cidade do tamanho de Toronto.

ônibus vazio

Provavelmente nesse momento, caso a tia Cleuserene esteja lendo essa postagem, ela deve estar culpando sua consciência por ter insistido nessa compra, pois quase fez seu sobrinho querido perder o caminho de casa, sem contar que eu estava carregando uma pipoqueira o tempo todo. Ao menos eu aproveitei o tempo para ouvir minha playlist de podcasts, que por sinal, ainda continuo atrasado com alguns episódios.

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