Canadenses e os funcionários do TTC de mau humor

Antes de chegar no Canadá sempre ouvi falar que as pessoas daqui são muito educadas. Mais tarde, depois ainda de ter chegado, ouvi falar também que os canadenses costumam ser bastante divertidos. Bom, quanto a educação realmente concordo, o pessoal por aqui é educado, mas nada muito diferente dos brasileiros. Agora divertidos, como diria uma ex-professora dos tempos de escola, cada caso é um caso. Como educação não é sinônimo de humor, não é nada incomum encontrar as pessoas aqui de mau humor, principalmente os funcionários do TTC (Toronto Transit Commission).

Tudo bem que não é agradável dirigir um ônibus lotado ou ficar atendendo pessoas na estação de metro o dia todo. Mas o problema é que essas pessoas não parecem ter hora certa para expressar seu mau humor, ou mesmo usar como desculpa o cansaço, pois logo de manhã, por volta das 8 horas já estão de cara feia e demonstrando sua estupidez com as pessoas ao redor.

No fim do mês passado quando fui comprar o passe mensal para poder usar o transporte durante o mês de setembro, fui atendido por uma mulher muito rabugenta, que ao invés de usar o microfone disponível entre a cabine e a parte externa da mesma, onde eu estava, ficou gritando e ao mesmo tempo não demosntrando nenhum tipo de compreensão para entender o que eu estava querendo.

No início da manhã é muito comum pegar os ônibus lotados. Existem vários ônibus que fazem a mesma rota, mas especialmente entre às 8 e 9 horas, durante o que podemos chamar de “horário do pico”,  é muito difícil encontrar um ônibus que não esteja completamente cheio, sendo que alguns motoristas nem param no ponto por não haver mais espaço para outras pessoas embarcarem. Todos os ônibus são padronizados e existe uma linha que separa o espaço entre a porta principal e o assento do motorista dos demais assentos públicos. Quando o veículo está lotado, alguns motoristas não demosntram importância caso os passageiros avancem um pouco a linha, considerando que existe espaço pra isso. Na terça-feira passada quando consegui encontrar um ônibus onde possivelmente haveria espaço para mais dois ou três passageiros, emabarquei. Como eu estava com os pés em cima da linha, o motorista começou a gritar “Please, stay behind of the line,  folks! [Por favor, fiquem atrás da linha!]”. Alguns tem a mania de colocar uma gravação para tocar dizendo algo como “Please, move a step back! [Por favor, deem um passo pra trás!]”, anunciando que o pessoal deve ser solidário quanto ao espaço interno no ônibus perante os demais passageiros. Logo após que ele fez a solicitação eu comentei “Sorry, but I can´t! [Desculpe, mas eu não consigo!]”. Ele em tom irritado respondeu “And then you guy should to take the next bus! [Então você deve esperar o próximo ônibus!]” e abriu a porta. Em uma tentativa com que os demais passageiros percebessem a situação e tentassem ceder um pouco mais de espaço, movi meus pés alguns centimetros para trás, o que foi quase impossível. Retribuindo, o motorista anunciou “It´s OK! [Está bom assim!]”, fechando a porta e partindo.

Na quarta-feira mais uma maratona matinal pra pegar o ônibus menos lotado. Embarcando no mesmo, tentando encontrar a melhor posição possível, principalmente procurando um local seguro pra segurar e conter o balanço entre uma freada e outra, percebi que um motorista daqueles clássicos ônibus de escola amarelos, abriu a porta e começou a discutir com o motorista do ônibus que eu estava, enquanto o mesmo estava aguardando o semáforo. Não consegui entender o motivo da discussão nem mesmo o que o outro motorista alegava. Os dois arrancaram e no semáforo seguinte, mais uma vez ficaram lado a lado, quando o motorista do TTC desprendeu o cinto de segurança, abriu a janela e gritou pra o outro que estava com a porta aberta novamente “You shouldn’t be in a school bus! You are so stupid to it! [Você é muito estúpido pra ser motorista de um ônibus escolar!]”. Mais uma vez os dois arrancaram juntos quando o semáforo abriu e ainda na quadra seguinte ficaram fazendo gestos implicantes até que o ônibus escolar tomou um rumo diferente entre o tráfego.

A primeira questão que eu gostaria de levantar é que pelo preço que os usuários pagam pelo TTC, $ 3 dólares por vez, o que mesmo com os passes semanais e mensais que possuem um valor um pouco mais acessível continua sendo um custo alto, a comissão deveria estar mais ligada nas situações que os usuários passam e disponibilizar mais ônibus, ao menos nos horários de maior movimento. Até porque, todos tem direitos iguais, sentar e ler tranquilamente seu jornal até chegar no destino, e não ter de passar o caminho todo em pé, espremido entre os demais.

A segunda questão faço referência aos colaboradores que trabalham tanto nos ônibus, metros ou nas bases de atendimento das estações. Concordo que sejam cargos que muitas vezes devem ser encarados com rigidez, contudo, caso essas pessoas não estejam satisfeitas com o emprego que tem e por isso muitas vezes procuram descontar sua insatisfação com voracidade no trânsito ou discutindo com usuários do serviço, sinto muito, mas definitivamente esses empregados devem repensar seus conceitos e trocar de emprego.

De forma alguma quero salientar que o TTC em Toronto é ruim ou coisa do tipo, o serviço funciona, e comparado ao que temos no Brasil, ao menos no RS, é inúmeras vezes melhor, mas como todas as grandes organizações instaladas em centros urbanos, possui diversos fatores que precisam melhorar.

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